Júlio de Matos Photography

PREFÁCIO [back]

FADING HUTONGS (2005 - 2008)


AO JULIO

Quem és tu, Júlio?
És jovem ou velho?
De que parte do mundo és oriundo? Da Europa? Da América?
Onde cresceste?
Em que tipo de cidade estàs agora a viver?
Vejo que visitaste a minha cidade natal de Pequim. Uma, duas, muitas vezes?
Ficaste aqui muito tempo?
Que conheces sobre a capital chinesa? A sua história? A sua arte? O seu povo?
Leste sobre ela antes, entre e durante a(s) viagem(ns)?
Falas Mandarim?

Quando olho para as fotografias que tiraste em Pequim, não posso deixar de fazer estas perguntas. Talvez a minha curiosidade se prenda com a tremenda sensação de nostalgia que transborda das tuas imagens. No entanto, não pode, de maneira alguma, ser nostalgia jà que é impossível que conheças a cidade antiga de Pequim e guardes alguma memória da sua vida urbana, como eu guardo.

Hà cinquenta anos, nasci num hutong, na zona leste de Pequim, e cresci noutro. Durante toda a minha infância, o meu universo foi um pàtio, cercado por céu, terra e arquitectura e completado por àrvores, flores, bicicletas e outras crianças. Era um espaço introvertido que era simultaneamente preenchido com actividades domésticas e uma sensação de tranquilidade. Hà muito que parti da casa-pàtio e, desde então, a Pequim com esse tipo de casas e hutongs tem vindo a desaparecer mas, enquanto arquitecto, encontro pàtios e hutongs em quase todos os edifícios que projectei.

Captaste a atmosfera do passado, que te é inacessível, meramente por acaso? Talvez esteja enganado e jà tivesses estado aqui. Podia ter tentado localizar-te através da Internet mas decidi não o fazer. Prefiro acreditar numa espécie de sensibilidade artística e cultural que é universal, que tu deves possuir e manifestas maravilhosamente no teu trabalho. Assim, não importa o que conheces. Nem se o recordas. Possivelmente, quando documentaste os hutongs de Pequim, viste o bairro onde cresceste através da objectiva e o estranho foi instantaneamente traduzido no familiar. Ou simplesmente observas o mundo em transformação com um profundo amor pela humanidade.

Yung Ho Chang, Arquitecto, Pequim 2006