REFLEXÃO [back]
TA PROHM - THE MEMORY OF THE WORLD (2002)
INSTINTO MATERNAL
Foi no preciso local onde uma particular ruína de uma extinta civilização Hindu se fundiu organicamente com a natureza, que fotografei em 2001 Ta Prohm no Camboja, em Siem Reap, . Hà muitos anos acredito que as àrvores tem uma Percepção e uma Inteligência muito particular que se revela por vezes de uma forma tal modo evidente, que é interpretada pelo homem como se de uma mera curiosidade se tratasse. Quando em 1432 a monarquia Khmer abandonou aquela cidade agraria, local de uma civilização única, a floresta tropical re-ocupou o seu lugar de direito. Mas interpretou-o e respeitou-o. A natureza estabeleceu um vinculo de complementaridade com as construções tornadas ruínas. Mas não as arruinou, ocupou-as. Interpretou a estrutura arquitectónica, fundiu-se com a pedra e assim tornou-se indissociàvel. E durante cerca de meio milénio construiu uma experiência única de complementaridade com as construções do homem. Em 1863 Angkor foi re-anunciada ao mundo ocidental por Henri Mouhot, um naturalista Francês integrado numa expedição da British Royal Geographic Society. Hoje Ta Prohm é a única relíquia arquitectónica que ainda conserva as marcas do tempo com que há cerca de 150 anos foram presenciadas em Angkor. Não tinha planeado nem antevisto este projecto. Quando numa manhã chuvosa penetrei naquele espaço senti-me tocado, e de imediato tomei a decisão de regressar sozinho mais tarde. Então, aí permaneci durante vàrias horas. Primeiro olhando e explorando. Entretanto multidões de turistas chegavam e partiam como vagas de uma maré ruidosa e visualmente poluente. O silencio que ficava a pairar nos curtos intervalos entre as marés de turistas, restituía a dignidade a este pequeno santuàrio da memória do mundo. Nesses pequenos intervalos fui lentamente fotografando, como se de um ritual se tratasse. Só parei quando a luz começou a faltar. Quando regressei a Portugal processei os filmes, para os preservar. Mais tarde seleccionei e imprimi alguns negativos, das fotografias que vos mostro. Gosto de deixar amadurecer as imagens para as poder olhar de uma forma fresca. Enquanto escrevia este texto tomei a decisão de reavaliar as provas de contacto deste projecto, e aumentar o numero de imagens deste corpo de trabalho. Nos edifícios ou compartimentos onde a presença da natureza foi erradicada as paredes e tectos ruíram. A natureza tornou-se a mão que sustenta os que ainda restam. Como se um instinto maternal "possuísse" esta floresta tropical. Júlio de Matos Maio, 2010
